16 setembro 2009

agenda, sexta e sábado, porto, vila do conde e lisboa

da janela, susana chiocca

vários são os eventos a decorrer nesta altura, a sombra chinesa faz os destaques possíveis e/ou pretendidos.

assim, dia 18 de setembro, sexta feira, susana chiocca dá início a da janela, "um projecto de instalação de vídeo que reúne trabalhos realizados entre 2001 e 2009 que atendem ao afora, na espera, na repetição da diferença" (do press release).
o arranque dá-se com o evento casa aberta, que vai ocupar o 2º andar do número 235 na rua do bonjardim, porto, apenas nos dias 18 e 19 de setembro entre as 18h e as 22h. nesse mesmo sábado 19, o segundo momento deste projecto inaugura no project room QUARTOESCURO, a partir das 15h00, mantendo-se todas as sextas e sábados entre as 16h00 e as 19h00 até 24 de outubro. o QUARTOESCURO fica na rua de cedofeita 187, 1º, também no porto.





os republicanos, joão sousa cardoso

de regresso a sexta, 18, joão sousa cardoso apresenta os republicanos no uma certa falta de coerência, como parte inaugural do ciclo de programação criado por josé maia para este espaço. do press release:

"Depois de um longo período de recusa em participar em exposições, até 2007, altura em que montou e mostrou A Terceira República, no espaço Mad Woman in the Attic, no Porto, João Sousa Cardoso apresenta agora a segunda parte desse projecto. Desafiado pelo José Maia para uma nova mostra, Os Republicanos é a metade que continua (naturalmente) e fecha (provisoriamente) este trabalho de experimentação em torno das imagens do nosso tempo social e político, em Portugal. Mais uma vez, João Sousa Cardoso expõe as imagens que o têm ocupado – as imagens dos outros – e entre as fotocópias dos livros de história, procura, desta feita, os corpos e a libido que nos governam."

resta acrescentar que a inauguração acontece às 22h00 na rua dos caldeireiros 77, porto.


graveless, antónio leal

mais a norte, em vila do conde, sábado é também dia de inauguração de exposições no SOLAR. o destaque vai para o projecto de antónio leal, graveless:
"O projecto Graveless assume-se como uma reanimação do objecto arqueológico de forma a colocá-lo em confronto com uma visão e análise do presente.
No espaço da cave, recolhida do exterior, apresenta-se uma exaltação da fertilidade e põe-se em causa o funcionamento espacial no mito da caverna. Os símbolos da vida mesmo encerrados fisicamente podem funcionar como libertadores da consciência aproximando o indivíduo do conhecimento e da realidade."
inauguração às 22h00 no solar de s. roque, rua do lidador, vila do conde.


shocking pinks

em lisboa, depois da inauguração de sua boca, aberta para gritar, estava cheia de terra, a exposição de mauro cerqueira patente na kunsthalle lissabon até 18 de outubro (informações mais detalhadas e imagens da performance preparada para a inauguração na semana passada para ver aqui), segue-se o destaque para a inauguração da colectiva shocking pinks, projecto desenvolvido por joão mourão e moi même como parte integrante do queer lisboa 13, 13º festival de cinema gay e lésbico de lisboa.

esta exposição conta com novos trabalhos especificamente criados para o contexto da autoria de ana pérez-quiroga, andré alves, carla cruz + ângelo ferreira de sousa, carla filipe, joão leonardo e luisa cunha, e ainda com a contribuição dos CALHAU! para a imagem do projecto. para ver a partir das 19h00 de sábado dia 19 no cinema são jorge, na avenida da liberdade em lisboa, até ao final do festival no próximo dia 26 de setembro.

sobre a exposição, um texto assinado por mim e pelo joão:

"Esta exposição é uma tentativa de provocação. Sobretudo, provocar o que é expectável, dado que é aí que se pode realmente inscrever um desafio aos padrões que instituem o normativo. Porque mesmo quando se trata de abordar o que se entende por desvio, é difícil oferecer protagonismos a agentes menos colados a parâmetros e construções conformes a modelos entretanto ensaiados, por isso previsíveis. Ideias em torno dos fantasmas que assolam o campo social (cujo derradeiro papel, segundo alguns, poderá ser o da desestabilização, da ameaça conducente ao caos, da sabotagem) são na maior parte das vezes ideias feitas – mais claramente na sua propagação por um imaginário tipicamente conservador, de status quo; de forma menos visível, na maneira como a presença de tais ideias se esvai da ameaça que supostamente lhes está subjacente, instituindo-se apenas enquanto tubo de escape numa constelação de complexidades humanas estruturantes que, segundo nos garantem (e nós aprendemos a garantir), importa acima de tudo preservar. Aliás, no contexto dessa preservação assiste-se a um acelerar na procura de consensos alargados, de inclusão dos “transgressores” que, aparentemente, mais não procuram do que uma participação reconhecida e inofensiva num modelo social prevalecente.

No decorrer dos processos apenas esboçados, só a perda de potencialidades possivelmente bem mais interessantes, inscritas numa vontade e manifestação da diferença frente àquilo que naturalmente tende para o nivelamento, parece ser inevitável.
A actividade artística é abundante em produções que procuram pensar os sentidos do mundo noutras direcções, sublinhando a vontade irrecusável de pensar e agir de forma diferente; essa é, afinal, uma das suas mais celebradas qualidades – sendo igualmente uma das menos pensadas e possivelmente das mais temidas. Parece-nos importante tentar resgatar esse potencial, mas de uma forma menos contida e espectacular.

Seria bastante cómodo propor um projecto expositivo que oferecesse propostas caracterizadas pela agressividade ou pelo exercício de choque, ou ainda pela demonstração ilustrada de um ponto de vista correctamente estruturado; de certa forma, seria expectável que isso acontecesse. No entanto, estaríamos a sabotar aquilo que, em conjunto com os artistas e testemunhas desta exposição, nos interessa pensar bem como as formas de o fazer. Tal não passa certamente pela exploração da pose, um previsível tique decorativo sem qualquer possibilidade de abalo que se sobrepõe excessivamente a muitos dos discursos correntes na produção artística. Isso é por demais assinalável tanto nas propostas supostamente desligadas de toda e qualquer preocupação fora do âmbito “estritamente artístico”, como nas obras que circulam e adquirem a tão ambicionada visibilidade com o apêndice das “preocupações” (ideológicas, políticas, humanitárias, etc).

O que nos interessou foi deixar pontas soltas. Na escolha dos artistas, na observação sobre as suas propostas (cujo resultado passa por esta apresentação), no estabelecimento de limites definidos capazes de encerrar um ponto de vista sustentado... Seria também bastante mais fácil ancorar qualquer uma destas linhas numa dissertação carregada de eficácia e segurança com princípio, meio e um confortável fim, capaz de assegurar a mais-valia de modelos que demonstrassem como e quando e a que propósito pensar a diferença.

Mas, em consonância com os verdadeiros agentes do que é estranho, do que se quer distinto, daquilo que é capaz de abalar e deixar novos incómodos, preferimos não o fazer. Esta proposta pretende assentar sobre essas formas de vontade, esquivando-se à pedagogia inscrita numa tentativa de lição sobre o que pode significar queer em Portugal (nem sequer nas artes portuguesas, e ainda que implicitamente esse seja um dos dados deste projecto), mas evitando igualmente o embate amordaçado do atordoamento com lugar marcado. Tudo aqui é mais subterrâneo, e implica necessariamente uma outra disponibilidade – ou pelo menos o fascínio de olhar por aí.

Procurou deixar-se passar (sem o deter) o contexto que nos interessou abordar de uma outra maneira, permeável às formas como os artistas apresentados a pensam, neste contexto e para este momento. Essas formas de pensar tocam-se, convidando-nos a participar nesse contacto e experimentação. Aqui está implicado um dos propósitos fundamentais desta exposição: ensaiar uma possibilidade de pensar a diferença, não de uma forma contida e exemplar, seguindo o trilho de um lado ao outro; mas em terreno aberto, instável, onde a inquietação de cada um possa concretamente tornar-se activa e participar."

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