13 junho 2006

Aqui ninguém derreteu ao sol


Do texto “a informalidade como alternativa”, assinado por José Roseira na revista on-line arte capital e publicado em 06/06/07, venho agora abordar algumas questões não esclarecidas para os autores e proporcionar uma espécie de errata útil aos leitores.
Estando convencido do grande número de leitores que visita esta publicação não poderia deixar de fazê-lo. Polemizar, de resto, não é o meu estilo.

Lembrando-se de colocar como eixo central desse artigo o vector “informalidade”, enquanto direcção de um modo alternativo, os autores não tiveram a lucidez necessária para reparar que o epíteto “alternativo” é ele próprio, uma atribuição muito pouco alternativa. Quer-se dizer com isto que não é apenas um facilitismo conceptual de quem apelida os gestos mas também uma comodidade intelectual para quem discute generalidades estéreis, ao contrário de acontecimentos singulares num panorama cinzento e onde se procura construir horizontes. Esses, sim, com possibilidades estimulantes para pensar.

Estão certos os autores do texto assinado por J. Roseira quando acreditam “que esta definição não pode ser aplicada sobre todas estas iniciativas”. Algumas delas não se fixam num oficioso modo de existir nem num oficial estado de coisas. Já não acertam quando procuram justificar os projectos com o mero estratagema de integração institucional e as linguagens por uma lógica de mercado, como se sugere na última linha do segundo parágrafo.

Confio não errar, com muito mais propriedade no assunto que o(s) desconfiado(s) autor(es), se disser que não foi a promessa de Serralves e a abertura de galerias na rua Miguel Bombarda que constituíram as motivações para o surgir dos projectos em causa (no caso do salão olímpico, posso afirmá-lo definitivamente, dado o meu envolvimento de raiz). Estes são fruto da necessidade comum de abrir uma brecha na nossa área de trabalho (daí sermos maioritariamente antigos alunos de belas artes, mas não só, um dos membros fundadores é formado em economia),do desejo de fazer arte e da vontade de a partilhar, com muitos ou com poucos. Evidentemente, não consideramos nesta matéria a ingenuidade como uma virtude.

Quanto a Serralves, se “olhou e continua a olhar” como se refere, devemo-nos congratular neste ponto com a acuidade visual do museu e a sua operacionalidade vigilante, o que me parece vital para a cidade no seu todo.

No que respeita à dita inscrição no mercado artístico, através de exposições em galerias de arte, a opinião dos autores revela ignorância e ingenuidade no pensar.
Fiquem certos que não seria a ausência de tais propostas a desvincular-nos à arte.

Uma outra inverdade que decorre do discurso publicado tem acento novamente na grave ausência de honestidade intelectual. As iniciativas não visaram preencher (o que já não diria do texto/comentário de J. Roseira) o espaço vazio de um percurso, mas criar as situações e promover a possibilidade de prosseguir no nosso trabalho, o que julgo legítimo; fazer publicidade e participar em cortejos nunca foi nossa ambição e se J. Roseira nunca viu o salão olímpico operar numa lógica “completamente exterior à da instituição” é porque não fez parte do “público (restrito)” que visitou e/ou se envolveu em mostras, acções e intervenções que se proporcionaram. É, pois, o comentário alvo desta errata, desprovido de qualquer rigor e metodologia científica.
É uma pena que para mero exercício de vaidade não se tenha(m), o(s) autor(s), incomodado sequer com uma prospecção pela qual uma entrevista, conversa informal ou simples pedido de esclarecimentos teria constituído um valor inquestionável para a riqueza do artigo a que se propôs escrever.

A cereja neste bolo intragável ganha semelhanças ao postiço nariz de palhaço, pelo cómico que mesmo na desgraça emana...não resisto a chamar a atenção para a ridícula quarta linha do último parágrafo, a qual, apesar de julgar não me merecer comentário, é reveladora dos escrúpulos burgueses de quem tem a ideia brilhante de fazer bazófia com as dificuldades financeiras do outro. Do ponto de vista ético é terrível.

Resta informar que não existe qualquer retrospectiva do salão olímpico agendada, mas tão só a reunião (se se quiser discutível) de artistas que foram afectos ao tempo do projecto como o continuam a ser agora, não tendo, aliás, alguns destes, mostrado ali o seu trabalho, o que não os separa dos restantes. Posso adiantar também que todos os trabalhos a ser mostrados são inéditos. Refiro também que, não balizando rigorosamente um intervalo etário, se pretendeu evitar na selecção pensada uma dissolvência geracional; pelo que os artistas, talvez uns com mais experiências realizadas do que outros ou uma maior/ menor visibilidade mas este também nunca foi critério, como dizia, os artistas têm idades próximas do que seja a média matemática que resultar. Importante foi o conhecimento ao longo de anos de proximidades à obra gradualmente produzida.

Espero sinceramente ter contribuído mais para um entendimento do que para uma confusão.

A nossa congruência , para que fique claro, são valores relacionais, o nosso contrato é a amizade que cultivamos e o nosso método é a participação e não a competição.


Nota: chamo uma especial atenção para o facto de a fraqueza do infotainment assinado por J. Roseira não residir no palavreado mas na preocupante e já vulgar falta de imaginação.

Renato Ferrão
Membro fundador do Salão Olímpico.

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