13 novembro 2006

Pelo Apêndice...



Selected Theatre de José Almeida Pereira


Rocket Ship de Mauro Cerqueira

(imagem de divulgação - A jangada do La Méduse de Théodore Géricault)

non
náufragos, ergue-se novamente a cruz com o ruir da vela (1ª versão)

de Manuel Santos Maia

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Depois de José Almeida Pereira com Selected Theatre, Mauro Cerqueira apresenta Rocket Ship no Projecto Apêndice até amanha, dia 14.

Na quinta-feira, dia 16, Manuel Santos Maia encerra o 2º módulo de exposições com a instalação non - náufragos, ergue-se novamente a cruz com o ruir da vela (1ª versão).

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Texto de exposição

non - náufragos, ergue-se novamente a cruz com o ruir da vela :

Voltar à A jangada do La Méduse de Théodore Géricault para constatar que, como os sobreviventes do navio francês "La Méduse", também neste "apêndice", na cidade do Porto, muitos continuam a resistir num país perdido no Atlântico.

Voltar à "A jangada" de Théodore Géricault para como este e com este criticar a Câmara, os Governos, e os mais variados agentes do sistema artístico nacional; pois, lembrando o navio "La Méduse", a nomeação do capitão - que não era homem do mar - fora um acto de favoritismo político.

(O navio francês afundou-se quando se dirigia para África Ocidental, em 1876. O capitão e os oficiais superiores embarcaram nos salva-vidas e deixaram uma jangada rudimentar para os 150 passageiros e para a tripulação. Dos 150, apenas 15 não morreram nos 13 dias que estiveram á deriva no Atlântico.)

Voltar à A jangada do La Méduse de Théodore Géricault porque, como no seu tempo, nas artes plásticas, este tema é contrário aos "tradicionais".

Voltar à A jangada do La Méduse de Théodore Géricault porque, ao contrário desta que foi aceite com relutância, a presente obra será ignorada como todas as outras que foram apresentadas no mesmo lugar e como muitas outras ainda patentes ou recentemente apresentadas (nos últimos sete anos) por um considerável número de jovens criadores deste Porto perdido nos mares.

Voltar à A jangada do La Méduse para sublinhar que como no passado, a luta dos náufragos - num Porto de um país perdido no Atlântico - com os governantes e/ou com os agentes do meio artístico pela "LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE" continua a ser mesma.

Voltar à Crucificação de Matthias Grunewald porque, hoje como antes, a cruz a carregar, pelos artistas, continua a ser a mesma.

Voltar à Descida da cruz de Peter Paul Rubens, para lembrar que a fé ainda é o que faz movimentar os que por aqui andam - por este porto, por este "apêndice" - mesmo depois de uma primeira morte, mesmo diante do peso que se abate de maneira insuportável perante uma primeira morte.

Voltar à Descida da cruz de Peter Paul Rubens, para lembrar que depois de descidos da cruz cada um dos que por aqui anda é acompanhado por aqueles, não muitos, que sentem o desespero de terem sido arrastados e arrasados, como o fadado processo de crucificação.

Pelo referido e pelo ainda não dito, é hora de voltar ao O discurso sobre as Ciências e as Artes de Jean-Jacques Rousseau, para hoje constatar, como no tempo deste, que há um abismo entre as exigências da sociedade e a verdadeira natureza do ser humano; para (re)discutir "LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE", agora remetidos a valores do passado, considerados falidos.

Manuel Santos Maia, 2006

5 comentários:

merdinhas disse...

Roubaram a jangada ao Louvre?!


Amanhã venho ver com mais calma o que se passa por aqui.
(estou a morrer de sono)

merdinhas disse...

Regressos intencionais.

E a divisa da Republica francesa...flácida e falida.

Anónimo disse...

olá belinha e nuno!

neste texto há uma
falha
falta um não
diz "apenas 15 morreram
e deveremos ler:
apenas 15 não morreram

podem alterar?
obrigado
maia

isabel ribeiro disse...

feito!

Anónimo disse...

gostei muito do trabalho do
José Almeida Pereira

A montagem estava muito bem
O artista é um bom artista

Já tive a oportunidade de o ouvir falar do seu corpo de trabalho e
é surpreendente
uma coerência incrível

o homem é mesmo BOM!!!
Que viva o artista, VIVA!!!
Queremos ver mais trabalho.

Carlinha, tu que andas no mestrado com o Pereira
Tens visto coisa do artista?
Estou muito curioso
tento acompanhar sempre o seu trabalho
um bom trabalho é assim
ficamos trbalhodependentes
Artisticodependentes´

Vou parar com isto
Estou viciado na sombra
Estou como a CICI
É ou não é CICI?

Até já
Beijos
maia