na Galeria Plumba, até 07 de Abril.
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"Entre aquilo que é a face de uma galeria de arte – mostrar exposições individuais de artistas, ou colectivas, apresentando regra geral um projecto coerente – e aquilo que é o bastidor está o motor de funcionamento da mesma e do mercado da arte.
No Acervo acumulam-se obras dos diversos artistas que trabalham com a galeria, obras de diferentes anos, meios técnicos, conceitos, percursos que se vão desenvolvendo, obras que nunca serão mostradas a um grande público, que nunca foram expostas.
Após dois anos de existência da Galeria Plumba e da minha colaboração com a mesma tenho 11 trabalhos em acervo vindos de exposições passadas na galeria ou noutros espaços. Que exposição seria essa de uma artista feita apenas com as suas obras em acervo?
Imagine-a: ONE WOMAN SHOW
Na parede lateral esquerda um grande tapete marroquino, em tons de azul, dificilmente lerá: “EUROPEAN DREAM”, pois as letras são recortadas de um outro tapete muito semelhante e cosidas neste. De cada lado estaria uma pequena coluna pelas quais seria transmitido a banda sonora desenhada por Marta Von Óióai para a peça.
De frente à esquerda um televisor ligado a um leitor de DVD passaria as diversas obras em vídeo que fui produzindo. “Cordas” um vídeo documento duma acção nas ruas do Porto em que os transeuntes são convidados a saltar à corda, “Não há memória de paz na Terra” quatro crianças cantam uma lengalenga que se mistura com a realidade dos países em guerra, “Storm” e “Welcome” ambos produzidos e exibidos apenas na Finlândia, o primeiro uma animação sobre o desemprego na Europa e último um vídeo documento de uma acção sobre a imigração ilegal. Ao centro três fotografias que documentam um performance feita no Laboratório das Artes em Guimarães “Maintenance Art – homenagem a Mierle Laderman Ukeles”, em que limpo um circulo no soalho até retirar as várias camadas de lixo, verniz e cera, pondo a nu a madeira. À direita uma série de gravuras - marcas de água de moedas - representando relações entre países.
No tecto colocados em quatro cantos, desenhos que representam uma iconografia actualizada da Europa, Africa, América e Ásia. No chão um grande mosaico feito com tampas de Coca-Cola e água mineral formando uma alegre caveira “Consumidos”.
Do Lado Direito da galeria uma série de fotografias mostram uma construção de género. De um corpo praticamente nu ao ‘rapazinho’. Ao centro desta parede num cabide um T-shirt onde poderá ler, I AM AN ARTIST WHAT! CAN I DO FOR YOU? – acompanhada de uma fotografia tirada aquando da performance, na feira de arte, ARCO, 2006. Segue-se uma caixa de luz, sobre a parede, com uma luz continuamente intermitente, que persiste em tentar iluminar a palavra EUROPA.
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Mas nada disto vai ser visto neste ONE WOMAN SHOW.
Do acervo exaltado apenas se mostra um trabalho meu, feito propositadamente para o acervo e para esta exposição, um desenho que retrata o momento feliz em que entrego ao galerista aquilo que ele gostaria de receber da minha parte no seu acervo, um desenho.
Os acervos que visitei acumulam obras, embaladas ou não, são salas desmultiplicadas em corredores, vãos de escadas apinhados de arte, testemunhos ou não, de exposições passadas e na sua maioria pintura.
Das várias galerias do Porto, a maioria respondeu prontamente ao desafio. Art Hobler, Serpente, Presença, Graça Brandão, Fernando Santos, Sala Maior, Trindade, Minimal, João Lagoa, Símbolo, MCO, Alvarez, 111, Pedro Oliveira, outras não se sentiram em condições de aceitar, como a Por Amor à Arte e a Quadrado Azul: a primeira porque o seu acervo está em local provisório, não correspondendo à imagem que o galerista gostaria de transmitir, a segunda porque o acervo encontra-se mais despido do que o costume, não correspondendo àquilo que é o real acervo desta galeria, visto estar em mudança e da necessidade de contactarem os artistas representados, cuja obra seria reproduzida na fotografia.
Da Galeria São Mamede e da Nazoni, não consegui autorização atempada por parte dos responsáveis para fotografar o acervo. Faltam ainda a Interatrium e a LAB 65, e talvez outras que desconheça, e estas devem-se à falta de coordenação da minha parte para marcar visitas com os responsáveis após alguns desencontros.
A maioria dos acervos não é de fácil acesso ao visitante comum, este só poderá entrar nos bastidores a pedido, ou caso se mostre um potencial cliente, aí será com certeza bem-vindo, pois é neste espaço que se realizam a maior parte das transacções da galeria. Alguns acervos estão dispostos como as wunderkammer, as suas paredes, estantes, armários e paredes móveis preenchidas de alto a baixo com formas coloridas, aqui, os compradores encontraram com certeza algo que lhes encha as medidas, ou melhor, as medidas das suas habitações ou colecções.
O acervo da Plumba é revelado por inteiro ao público, qual Salon de arte Parisiense que atraía multidões para verem aquilo que até ao século XVIII era apenas mostrado em ambientes privados às elites, agora como na altura a acessibilidade é manifesta."
Carla Cruz, 2007
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e ainda, de Carla Cruz:
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A Criação do Mundo
no
Parque da Fundação de Serralves
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um trabalho realizado para o ciclo Transfigurações Efémeras
(mais inf.: aqui).
"A Criação do Mundo, projecto de Carla Cruz, parte da citação do Génesis “… e Fez o Homem à Sua imagem e semelhança” para questionar a noção de cidadania e a participação, activa ou passiva, de cada um de nós na construção da sociedade."
Pode ser visto até ao fim de 2007.
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