26 agosto 2007

Crónica de Kassel

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Documenta 12
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Desde 1955 que esta exposição acontece na Alemanha, aproximadamente de 5 em 5 anos.
Para esta edição, o director artístico Roger M. Buergel e a curadora Ruth Noack, adaptaram o já comum formato de não-forma, sem tema, supostamente ecléctico - disseminando os diferentes trabalhos de cada artista pela cidade, e nos diferentes edifícios destinados à mostra.
A opção da curadora em evitar as pequenas individuais parece-me faca para dois gumes: por um lado, trabalhos executados no ano corrente apresentam-se lado a lado com outros de outros tempos e outras latitudes - um confronto gerador de ideias e sentidos, únicos a cada observador; por outro lado, perceber o corpo de trabalho de cada artista torna-se uma tarefa exaustiva, similar ao jogo do Wally.
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As obras apresentam-se assim - nuas - sem a protecção do 'corpo de trabalho' e por vezes sem a muleta de uma produção que as apresente nas melhores condições (se há artistas, cujas obras, têm a honra de se apresentarem ladeadas de Rembrandts, outros ficam remetidos à grande 'feira' no pavilhão Aue) – e se há umas, cuja força é independente do meio que as rodeie, outras, pelo contrário, simplesmente desaparecem.
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Apesar de tudo há sempre coisas a descobrir e outras a rever,
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Ficam para a memória alguns registos de performances realizadas na década de 70 por Jirí Kovanda: geralmente sem audiência, despojadas e documentadas apenas por algumas fotografias e descrições. As suas acções minimais usam os relacionamentos sociais e individuais quotidianos como um jogo.
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Os títulos das fotografias são as descrições dessas acções, que dão conta das regras desse jogo. Ficam algumas:
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1976, Waiting for someone to call me…

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.(img. roubada por aqui)

1977, On an escalator… turning around, I look into the eyes of the person standing behind me…

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.(img. roubada por aqui)
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1977, Going down the street I am bumping into passers-by
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E ainda os trabalhos de Anatoli Osmolovsky:

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A fotografia Majakowski-Osmolovsky de 1993 apresenta-se acompanha por um texto, onde o artista relata a relação que foi criando com a estátua do poeta Vladimir Mayakovsky em Moscovo. Via-a da janela da sua cozinha e falava-lhe diariamente sobre os seus quotidianos na foto, quase parece que Mayakovsky lhe responde num segredo sussurrado ao ouvido. Esta foto é também um registo da performance Voyage of Netsezudik to Brobdingnag, sendo Brobdingnag a terra dos gigantes nas Viagens de Gulliver de Jonathan Swift e Netsezudik o protagonista, "the unnecessary one".

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Mais recente, de 2006, é Hardware. Um conjunto de onze esculturas que, apesar de se apresentarem como série são diferentes umas das outras. Pequenos tanques de dez países esquematizados quase até à abstracção, em bronze polido. Temporalmente remete-nos para um futuro arqueológico: reconhecíveis mas indecifráveis.

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(img. roubada por aqui)
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Também de 2006, Bread. A base alimentar humana por excelência é aqui apresentada em madeira moldada em efeitos dos testes Rochard.
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Mais três trabalhos, dos quais não vou dizer nada. Eles comunicam numa linguagem de memória intuitiva, e é aí que os deixo:

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.James ColemanRetake with evidence
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(img. roubada por aqui)
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. (img. roubada por aqui)
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Mladen Stilinovicthe explotation of the dead
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Olga Neuwirth - ...miramondo multiplo...

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Mais sobre esta Documenta de Kassel: aqui e aqui

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1 comentário:

Manuel Santos Maia disse...

Olá Isabel!!!!
Já tinha lido o teu comentário sobre a Documenta 12 de Kassel
mas, só agora terminadas as férias,
é que tenho tempo para ler os blogs dos amigos
ou melhor
participar nos debates,
trocar impressões sobre o que nos sugerem
ou nos proporcionam comentar
ou simplesmente nos participar e fazer parte do vosso espaço, já que o permitem abrindo este espaço.

quanto à DOCUMENTA 12
já tive a oportunidade de trocar algumas ideias com vocês, (tu e o Nuno), com o Renato e outros amigos que no entanto foram ver e outros que não tiveram oportunidade de ir ver.
no meu parecer esta DOCUMENTA está muito distante da anterior. Comparando-a há no meu entender um grande desnível segundo o que considero uma boa exposição ao nível o título que ostenta que a de ser o maior evento de artes plásticas realizado no Mundo. Quem coloca a fasquia alta são os próprios responsáveis pelo evento e o passado recente desta mostra tem sublinhado a relevância da DOCUMENTA quando comparada com outros eventos.
Se a base conceptual, os pontos de partida desta DOCUMENTA, definida pelos curadores, me levantava uma quantidade de interrogações fazendo crescer a expectativa o meu interesse em ver o que seria a DOCUMENTA 12, a segunda mostra depois de 2000, depois de 2001, num período de mudanças em que vivemos, etc. …
a DOCUMENTA 12, apresentou-se apenas polémica na fase da sua apresentação, na fase do enunciado e não no que é ou pela pertinência da mostra em sim. E se atendermos ao “enunciado”, este careceu, desde o início, de uma ajustada e rigorosa exposição que nos permita reconhecer o problema e conhecer a visão dos curadores. Sobre o desenho do evento este nunca sai do plano da abstracção, não nos permitindo discernir os objectivos ou notar o que pretendiam com a ou no momento da exposição.

Bem,…
terei de parar por agora
já volto
até já
maia