24 outubro 2007

allora & calzadilla


allora & calzadilla, sediments, sentiments (figures of speech)
espuma, gesso branco, som
© autores

jennifer allora (eua, 1974) e guillermo calzadilla (cuba, 1971) trabalham juntos desde 1995, em porto rico. já passaram pelos sítios do costume: bienais de s. paulo, veneza, istambul, lyon e a do museu whitney, bem como pela tate modern, o walker art center, a serpentine gallery ou o palais de tokyo. agora, o seu trabalho pode ser visto nas galerias walter & mcbean do san francisco art institute, cuja programaçao, já aqui o anunciei, está a cargo desde há um ano do comissário chinês hou hanrou. reunindo um grupo (2004/2007) de 6 trabalhos em video bem como a instalaçao que dá nome à exposiçao, 'sediments/sentiments (figures of speech)' pode ser visitada até 15 de dezembro. e vale bem a pena faze-lo.

deixo aqui imagens da peça central, que na inauguraçao foi palco de uma performance levada a cabo por alunos do conservatório de música de s. francisco. os alunos interpretaram musicalmente excertos de discursos políticos proferidos pelos inevitáveis george w. bush ou saddam hussein, passando igualmente pelas palavras do dalai lama ou de martin luther king, jr. (o que me levou a abandonar um projecto em que estava a trabalhar e que era muito próximo deste gesto, mas isso é outra conversa...)



os sons resultantes dessa actuaçao foram registados e podem agora ser ouvidos, partindo do interior da peça. note-se que no momento da performance os próprios intérpretes estavam deitados em 'túneis', partes integrantes da enorme massa escultórica que ocupa a maior parte da galeria. os artistas encerram assim uma exploraçao pelas intersecçoes entre militarismo e som, vistas à luz omnipresente do panorama bélico em que o mundo se vai reconhecendo. a articulaçao da escultura com aspectos sonoros parece ser igualmente essencial para estes artistas.

desta peça central, as sugestoes amalgamadas emergem com uma impressionante presença dinâmica: para quem entra na galeria, o primeiro encontro do olhar com a peça dá-se a partir de uma estrutura semi-circular (uma roda? de quê?), um objecto do desenho, vontade e domínio humano. desse referente, já em rota de colisao com um naturalismo, somos imediatamente absorvidos pela instalaçao - e aqui nao quero deixar de referir: para mim, esta exposiçao pode ser vista como uma liçao sobre montagem num espaço perigoso...

nao há separaçao entre este encontro inicial com o objecto partido e os pedaços de massa geológica que imediatamente evocam o trabalho de caspar david friedrich sobre o gelo. outras sugestoes vao aparecendo, como a ideia de bunker e, acima de todas as possibilidades, a associaçao com algo violento, de carácter explosivo, é inevitável.



a parte menos conseguida do projecto talvez seja mesmo aquela que é desempenhada pelo som: tecnicamente, falta timbre, nitidez; pelo contrário, sobra presença e repetiçao, que apenas parecem dar lugar a uma certa irritaçao tangencial, nada referente a um p®opósito em si. ou seja, dadas as tais condiçoes 'perigosas' do espaço expostitivo, o som vai esbarrar contra os seis videos projectados, também eles usando o som nao só enquanto esperada consequência ou apêndice do processo videográfico mas, com mais frequência, como matéria fundamental das obras. ora quem é referido no desdobrável que acompanha a exposiçao pelo peso que o som supostamente detém nos trabalhos, a meu ver falhou no tratamento desse aspecto, mas uma segunda visita pode ajudar a perceber melhor se o objectivo passa por uma cacofonia enquanto desconcertante fio condutor para os trabalhos de allora & calzadilla, ou nao.



marcado está, portanto, o regresso à exposiçao para ver os vídeos com outra concentraçao. o que eventualmente me fará voltar à carga aqui no sombra chinesa, a propósito dos mesmos. já agora, e para completar a agenda de intençoes, ficam alinhados alguns bons motivos: no dia 26, quinta-feira, jeff wall em discurso directo no sfmoma a reboque da inauguracao da sua retrospectiva; aproveito a boleia justificada para ver'take your time' de olafur elliasson, que, desconfio, nao me vai demorar muito tempo a visistar mas deve dar material para um belo texto de repulsa...

mais à frente, no primeiro fim de semana de novembro, regresso a los angeles para ver, sobretudo, a primeira grande exposiçao (adoro estes epitáfios promocionais!...) do belga mais mexicano que existe, dito francis alÿs, no hammer museum.

finalmente, a chamada falta de tempo e disposiçao funcionam como desculpas para ainda nao ter visitado o grupo inaugural de exposiçoes desenhadas por jens hoffmann para o wattis institute - entre as quais se inclui a do 'protegido' tino sehgal, alvo de uma retrospectiva com duraçao prevista até dezembro de 2015. para os que ainda nao sabem, hoffmann convidou (e fez muito bem) a dupla joao maria gusmao/pedro paiva a participar numa das exposiçoes por si comissariada, pelo que s. francisco vai ter direito à prata da casa já em fevereiro ou março do ano que vem. enfim, espero ter unhas para estas guitarras todas.

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