Só temos o passado à nossa disposição. É com ele que imaginamos o futuro.
Eduardo Lourenço, 1997
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Do texto de exposição (Paulo Mendes):
"(...) um conjunto de novos trabalhos onde a fotografia e a pintura se complementam em imagens que questionam o papel das artes plásticas na representação e ao serviço do poder politico.O retrato foi sempre um tema recorrente na pintura.
Que valor iconográfico e de relevância politica podemos hoje retirar ao olhar para retratos de Salazar e de outras figuras da sociedade portuguesa de diferentes épocas?
Ultrapassadas pelo avanço da história essas representações estão agora armazenados em esquecidos acervos de museu, como adereços de uma peça fora de cena. Abandonados os lugares da sua exposição pública, arrastados pela perda da importância politica dos representados ficam agora depositados entre outros retratados actualmente anónimos, entre cartões e máquinas de climatização na tentativa de preservar a representação de uma história pública.Numa sociedade de brandos costumes, este lento apagar da memória corresponde a uma amnésia colectiva."
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na Galeria Reflexus - Porto
até 03 de Novembro
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4 comentários:
Aqui está uma das melhores exposições
actualmente patentes nas galerias do Porto.
Uma excelente montagem
e a apresentação de um novo grupo de trabalhos do artista - comissário Paulo Mendes, que dá continuidade a um corpo de trabalho sólido
e que com esta mostra confirma a sua resistência
num panorama artístico nacional
que lhe tem sido adverso e injusto.
A intensa actividade do Paulo Mendes, enquanto artista, (veja-se as recentes exposições individuais e o número de exposições colectivas em que tem participado regularmente), tem sido injustamente ignorada pelos poucos comentadores críticos da nossa imprensa em especial nos poucos jornais decentes que têm vindo a acentuar a sua insignificância no respeita ás artes plásticas.
Num passado recente, a personagem mais representativa deste situação sombria que não dignifica e nada contribuía para a construção de uma realidade artística, centrava-se no figura do anacrónico Alexandre Pomar que com o seu pequeno poder no Expresso, tentava ditar, julgando inscrever nas artes plásticas do burgo, o que era e não era arte. Neste momento, a quase inexistência de espaço crítico construtivo ou de espaço crítico livre nos nossos jornais, não existe. Existe a patética estrelinha que é atribuída de forma não justificada que encobre julgamentos não explanados por quem deveria ser julgado da mesma forma, com a estrelinha e a bolinha. É esta a ignóbil e sofrível realidade dos nossos jornais e comentadores críticos, que se resignam e ou não contestam determinações e parâmetros que não contribuem para a construção da realidade artística nacional e em especial, as artes plásticas.
Quanto ao alheamento dos comentadores críticos, relativamente ao que se vai fazendo, este é um problema que facilmente se constata se nos dermos ao trabalho de criar uma lista dos eventos, mostras ou outras actividades que são comentadas nos poucos espaços. Menos demorada na realização e mais reduzida, será a lista do número de artistas referidos ou cuja obra é alvo de crítica. Mais esclarecedora que as anteriores, será a lista com o número de artigos por artistas. E para que a imagem seja figurativa e não abstracta elabore-se uma lista de artigos por comentadores críticos por artistas por instituições e ou espaços expositivos e teremos uma imagem realista da rede de ligações entre existente entre os agentes artísticos.
E a qualidade dos comentários críticos
não são avaliados por estas listas.
mas…
(questiono-me …)
Se não é importante …
Qual a importância disto?
Pelo menos, porque o pensamos ou perdemos tempo em pensar este falso ou pequeno problema para a arte, ficamos um pouco mais esclarecidos, menos confusos quanto ao
o que é,
o que poderia ser,
qual é,
e como se processa
o poder de inscrição e legitimação por parte destes agentes artísticos do burgo.
Mas
voltando ao que importa …
e ao que fica
que é a ARTE
realizada pelos ARTISTAS
jmaia
(parece-me muito interessante............)
(retratos de retratos)
(o próprio "layout"/montagem da exposição)
[vontade de ver, estivesse eu mais perto...]
Antes de divagar por caminhos secundários…
encontrava-me na exposição do Paulo Mendes,
um artista que começou um percurso nos anos 90, do século anterior,
mas a sua actividade intensa enquanto artista, enquanto autor e comissário dos projectos W.C. CONTAINER, IN.TRANSIT, na Associação Cultural Plano 21 (com um conjunto de projectos diversificados que dão resposta e suprimem falhas no panorama artístico nacional, como por exemplo o Projecto TERMINAL), e pelas exposições em que tem participado e realizado em espaços, geridos por artistas mais novos, como Artes em Partes, Salão Olímpico, Laboratório das Artes, PêssegoPráSemana, entre outros, leva-me a dizer que PAULO MENDES não é apenas um artista dos anos 90 (como normalmente o consideramos) mas um artista cuja obra, enquanto artista e curador, estará ligada a duas décadas de dois séculos diferentes.
A presente exposição, patente na Galeria Reflexus, (de um jovem galerista, Nuno Centeno, que trabalha com artistas das duas referidas décadas; um dos poucos galeristas em Portugal, a trabalhar com artistas da sua geração,) apresenta uma série de trabalhos consistentes, que nos permite constatar que Paulo Mendes é um artista cujo corpo de trabalho tem vindo a crescer, de forma sólida, desde o início dos anos. A consciência política e a crítica construtiva ao sistema artístico são características de uma Arte Contextual e de uma arte empenhada política e socialmente.
A sua coragem em usar o espaço de liberdade, que a arte conquistou, num país de brandos costumes, de posições moderadas e acções contidas próprias de personagens receosas e amedrontadas com o peso do poder que os decisores institucionais ostentam e que são herdeiras do velho ditador que não está esquecido, e se encontra recalcado em cada um dos senhores do poder. Nunca como hoje, desde o proclamado fim da ditadura, esta imagem foi tão visível, tão vivida, tão presente. Como diz Cesariny “ que a dita dita dura, dura a dita dura” e pelo que se pode subentender do título da sua exposição de Paulo Mendes, hoje, se quisermos fazer o retrato da vida portuguesa, esses retratos deverão expor e revelar os poderosos ditadores encobertos e disfarçados. Os responsáveis por um país que ainda respira e vive segundo modelos do passado e que não soube (re)criar-se a partir da Liberdade pela qual o Povo utopicamente Lutou. Não foi má sorte, não foi destino…
É falta de vontade, e querer …
É o mesmo querer que os outros no PASSADO impunham e que está HOJE PRESENTE …
Não é má sorte, não é destino, é provavelmente S de saudade, o que os leva a fazer o mesmo que no passado viveram.
Ao artista cabe representar e tornar visível os retratos da vida portuguesa “ que a dita dita dura, dura a dita dura”
jmaia
Vale a pena!
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